Por Elton Telles
Além da vasta programação presencial do 48º Festival Sesc Melhores Filmes na sala do CineSesc, que exibe os grandes lançamentos do cinema no último ano, o público também pode conferir alguns títulos gratuitamente, sem a necessidade de fazer cadastro e no conforto de casa. Até o dia 27 de abril, a plataforma Sesc Digital disponibiliza dois clássicos que fizeram história no festival em edições passadas e seis destaques do cinema contemporâneo lançados em 2021, incluindo os vencedores desta edição “Valentina”, de Cássio Pereira dos Santos, e o doc musical “Chorão – Marginal Alado”, de Felipe Novaes.
O primeiro rendeu à jovem estreante Thiessa Woinbackk o prêmio pelo voto da crítica de Melhor Atriz. Ambientado em uma cidade no interior de Minas Gerais, “Valentina” narra o processo de adaptação da personagem-título, uma adolescente trans de 17 anos, em sua nova escola, onde faz questão de ser matriculada com o seu novo nome. Essa decisão vai desencadear algumas questões a serem resolvidas, como a autorização de seu pai ausente e enfrentar o preconceito entre os colegas de classe.
Além do reconhecimento no Festival Sesc Melhores Filmes, Thiessa já recebeu diversos prêmios pela sua atuação natural e convincente, como no Festival Mix Brasil, Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, L.A. Outfest e no Festival Internacional de Cinema de Seattle.
Já “Chorão – Marginal Alado”, escolha do público como Melhor Documentário de 2021, resgata a trajetória de Chorão, vocalista do grupo Charlie Brown Jr. e um dos principais astros do rock nacional nos anos 1990 e 2000. Para os fãs da banda, o filme é um prato cheio, já que reúne imagens de acervo pessoal e entrevistas inéditas com ex-integrantes e profissionais da cena musical, que relatam as polêmicas e o apogeu do Charlie Brown Jr. até o seu término, anunciado com a morte precoce de seu líder, em 2013.
Outros três filmes autorais do recente cinema brasileiro integram a programação online. Um deles é o agradável “Noites de Alface”, de Zeca Ferreira. Protagonizado pelos veteranos Marieta Severo e o paraibano Everaldo Pontes, a trama mostra a rotina pacata do casal sexagenário que ganha contornos de mistério com o sumiço repentino do carteiro que atende a vizinhança. O roteiro é adaptação do elogiado romance homônimo da escritora Vanessa Bárbara, lançado em 2013.
Premiado com o Kikito de Ouro no Festival de Gramado, “King Kong en Asunción”, de Camilo Cavalcante, apresenta a jornada reflexiva de um velho matador de aluguel que está escondido na região desértica da Bolívia. Depois de cometer o seu último assassinato, ele viaja para a capital do Paraguai para conhecer a sua filha.
“King Kong en Asunción” é o segundo longa-metragem ficcional assinado por Cavalcante após o espetacular “A História da Eternidade” (2014). Em tom de despedida, o filme entrega uma atuação arrebatadora de seu protagonista, o experiente ator Andrade Júnior, que não teve a chance de conferir a obra concluída porque faleceu em 2019, aos 74 anos de idade.
Outro candidato brasileiro disponível na plataforma é “O Palhaço, Deserto”, longa de estreia da diretora Patrícia Lobo. Encabeçado por dois atores veteranos do teatro paulistano, Paulo Jordão e André Ceccato, o filme teve a sua première no Festival de Cannes e acompanha a nova fase da vida de Cidadão, que após 40 anos trabalhando como palhaço, se aposentou e vai ter de enfrentar um novo cotidiano.
O representante estrangeiro do 48º Festival Sesc Melhores Filmes no Sesc Digital vem da Alemanha. “Lara”, do jovem cineasta Jan-Ole Gerster, encontra na protagonista Corinna Harfouch a intérprete ideal para a personagem-título, uma mulher que está prestes a completar 60 anos e não foi convidada para um concerto que vai transformar a carreira de seu filho, a quem ela dedicou todos os esforços para vê-lo triunfar como grande músico. Premiado em diversos festivais europeus, o drama trata sobre temas como maternidade e reconhecimento.
Clássicos em cartaz
Dentro da programação do festival, dois clássicos monumentais do cinema também estão disponíveis na plataforma Sesc Digital. Além de vencedores do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o que une essas duas obras-primas é que ambas foram vencedoras pelo júri da crítica em edições anteriores do Festival Sesc Melhores Filmes. Tratam-se das produções “Mephisto” (1981), de István Szabó, e “Amor” (2012), de Michael Haneke, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes.
“Mephisto” adapta a história de Mefistófeles e do Doutor Fausto ao fazer com que o protagonista Hendrik Höfgen (papel de Klaus Maria Brandauer) abandone a consciência, traia seus amigos e venda sua arte para atuar e se agraciar com o Partido Nazista em troca da manutenção de seu trabalho, fama e posição social. Sua glória e queda remetem a história do próprio Partido Nazista.
Protagonizado por duas lendas do cinema francês, Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva interpretam em “Amor” um casal de aposentados apaixonados por música clássica. Certo dia, a esposa sofre um derrame e fica com um lado do corpo paralisado e, diante deste incidente, os idosos passam por graves obstáculos que colocarão a convivência e seus sentimentos em teste.