Quando a trilha sonora rouba a cena

Quem sintonizou o rádio, selecionou uma playlist ou simplesmente navegou pela internet nos últimos meses dificilmente perdeu a chance de ouvir o dueto de Lady Gaga e Bradley Cooper em “Shallow”, música que compõe a trilha sonora do filme Nasce uma Estrela. Vencedora do prêmio de Melhor Canção Original no Oscar deste ano, a gravação extrapolou os limites das salas de cinema, sendo responsável por quebrar recordes de venda nas plataformas de streaming e por conquistar o título de música mais premiada da história – sem falar no sucesso informal de uma versão forró durante o carnaval brasileiro.

Mas, apesar de toda a repercussão, esta não foi a primeira vez que uma música composta para o cinema se tornou um fenômeno cultural. Como exemplo, podemos citar brevemente grandes hits como “My Heart Will Go On”, de Celine Dion, escrita para embalar o romance trágico de Jack e Rose em Titanic (1997), “Take My Breath Away”, do Berlin, que fez parte da produção de Top Gun – Ases Indomáveis (1986), e “(I’ve Had) The Time Of My Life”, imortalizada em uma das cenas finais de Dirty Dancing – Ritmo Quente(1987).

Entre os discos mais vendidos da história, também não é incomum encontrar a trilha sonora de um filme. Além do álbum de Nasce uma Estrela, que já comercializou mais de 4 milhões de cópias ao redor do mundo, coletâneas de clássicos como A Noviça Rebelde (1965), Grease – Nos Tempos da Brilhantina (1978) e O Guarda-Costas (1992), além de obras mais atuais como Frozen (2014) e O Rei do Show(2017), deixaram, igualmente, a sua marca na indústria musical.

O casamento entre som e imagem, no entanto, nem sempre aconteceu da forma mais espontânea. Nas primeiras décadas do cinema, quando a tecnologia ainda não permitia a gravação e reprodução de áudio, as orquestras é que davam conta de ambientar as narrativas dos filmes mudos. Somente em 1927, com o lançamento, pela Warner Bros, do sistema sonoro conhecido como Vitaphone, foi possível produzir o primeiro longa-metragem com passagens faladas e cantadas: O Cantor de Jazz(The Jazz Singer), de Alan Crosland.

Hoje, um dos gêneros mais apreciados do cinema são os musicais. Filmes como O Mágico de Oz (1939), Cantando na Chuva (1952) e Amor, Sublime Amor (1961) contribuíram e muito para a popularização da sétima arte e para a consolidação da Era de Ouro de Hollywood. Mais recentemente, títulos como Moulin Rouge (2001) e La La Land (2016) – assim como o próprio Nasce uma Estrela e O Retorno de Mary Poppins, que estrearam em 2018 – assumiram a linha de frente na diversificação e na preservação da linguagem.

Outro gênero que tem pegado carona no encanto do universo musical são as cinebiografias. Bohemian Rhapsody e sua campanha triunfal tanto nas bilheterias quanto na temporada de premiações é a maior prova desta tendência. Mas se considerarmos apenas outros lançamentos de 2018, encontramos demais produções como os documentários My Name Is Now, Elza Soares, Torquato Neto – Todas as Horas do Fim e Maria Callas – Em Suas Próprias Palavras, além do drama Nico, 1988, que conta a história da artista que fez sucesso ao lado da banda Velvet Underground. Da safra de 2016/2017, mas ainda recente, podemos citar Elis, de Hugo Prata, sobre a cantora Elis Regina, e da temporada 2019, Fevereiros percorre os caminhos da cantora Maria Bethânia pela música e religiosidade brasileiras.

Mesmo quando não foi a personagem principal, a música deu o tom de diversas histórias exibidas nas telonas. Das aventuras de Miguel, o pequeno aspirante a cantor, em Viva – A Vida é uma Festa – cuja faixa “Remember Me” inclusive levou a estatueta de Melhor Canção Original no Oscar do ano passado – até as reviravoltas do clube noturno comandado por José (Erasmo Carlos) e Ímã (Jaloo) em Paraíso Perdido, foram diversas as vezes em que o apelo musical roubou a cena nos filmes de 2018.

Para quem espera curtir boas melodias no escuro do cinema, 2019 promete não decepcionar. Além de Rocketman, filme sobre a carreira de Elton John que é uma das produções mais aguardadas dos próximos meses, já podemos cantarolar os sucessos da Jovem Guarda no brasileiro Minha Fama de Mau, cinebiografia de Erasmo Carlos dirigida por Lui Farias, e esperar ansiosos por estreias como Vox Lux – O Preço da Fama, de Brady Corbet, Suspíria – A Dança do Medo, refilmagem de Luca Guadagnino para o clássico de Dario Argento de 1977, com trilha sonora de Thom Yorke, do Radiohead; e até mesmo O Rei Leão, de Jon Favreau, que deverá contar com canções originais de Donald Glover e Beyoncé.

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