2018: O primeiro ano do cinema

Quando, em 1895, uma plateia se reuniu no que seria a primeira sala de cinema comercial para assistir à exibição de A Chegada do Trem à Estação de Ciotat, muitos se desesperaram, com medo de serem atropelados pela comitiva.

Não se tratava de nenhuma tecnologia de realidade imersiva, como já acompanhamos em algumas recentes produções. A projeção se baseava apenas na boa e velha imagem bidimensional, cuja popularização em pouco tempo revolucionaria a forma como as narrativas são construídas e compartilhadas no mundo contemporâneo. O que fascinou e impressionou naquele primeiro momento foi a oportunidade de ver a si mesmo e às cenas banais do cotidiano representados nos quadros em movimento, que eram então como mágicos.

Hoje, mais de 120 anos depois da experiência proporcionada pelos Irmãos Lumière, já não nos surpreendemos com vagões de trem avançando pela grande tela. Para nós, é muito natural distinguir a realidade da ficção porque já nos habituamos com o som, com as cores e até com os efeitos pirotécnicos capazes de criar desde cenas de ação mais mirabolantes até as histórias mais fantasiosas e fantásticas. No entanto, mesmo diante de todos esses progressos, ainda é possível entrar em uma sessão com uma dúvida na cabeça: Será que realmente já vimos de tudo no cinema?

Antes de buscar por uma resposta, resolvemos propor outra pergunta: Você reparou que diversas histórias com pontos de vista pouco comuns foram parar no cinema pela primeira vez em 2018?

Em nenhum outro ano pudemos assistir a um super-herói negro faturar centenas de milhões de dólares em bilheteria e ainda conquistar uma indicação a Melhor Filme no Oscar. Da mesma forma que Pantera Negra quebrou paradigmas, 2018 também nos proporcionou a chance de rir e chorar com um elenco que foge aos padrões caucasianos de Hollywood, como na comédia romântica Podres de Ricos, ambientada em Singapura, a primeira da História a ter elenco totalmente asiático. E até então é difícil lembrar a última vez em que torcemos pelo romance de um jovem homossexual como em Com amor, Simon e Me Chame Pelo Seu Nome.

Citamos apenas exemplos de filmes com grande sucesso de audiência, que lotaram as salas com plateias heterogêneas ao redor do mundo. Mas é claro que, se levarmos em consideração os lançamentos mais modestos, encontraremos ainda mais novos ângulos, recortes e grupos socioculturais representados – tanto nas histórias que são contadas nas películas quanto nos bastidores de cada produção. Isso porque, como nos primórdios da sétima arte, o cinema segue cumprindo o seu papel de espelho das angústias, dos desejos, das necessidades e das conquistas de cada época. Tudo isso faz de 2018 um ano repleto de singularidades. 

No dia 10 de abril, o CineSesc realizará a abertura da 45ª edição do Festival Sesc Melhores Filmes, que exibirá uma seleção das obras de 2018 mais votadas pelos críticos e pelo público. E, apesar de veterana, a mostra reencontra a sua importância justamente por seu poder de síntese do que foi produzido de mais interessante no ano que passou.

Ao longo de algumas semanas, o Festival será palco de sessões, encontros e bate-papos que debaterão as principais questões reveladas pelos longas-metragens que se destacaram em 2018. Período que, por retratar tantos anseios da contemporaneidade, é a prova de que estamos muito longe de esgotar as possibilidades da linguagem cinematográfica. Um ano que, por permitir que nos reconhecêssemos novamente naqueles filmes, pode ser considerado – por que não? – o primeiro da História do cinema. 



A programação completa do 45° Festival Sesc Melhores Filmes, assim como os ingressos para as sessões, estarão disponíveis no portal do Sesc em São Paulo a partir de 10 de abril.

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