Sobre todas as formas de homenagear o cinema

Não existe uma forma mais singela de celebrar o cinema do que entrar em uma sala de exibição e dedicar a nossa atenção às histórias que são contadas nas telonas. Mas exaltar a sétima arte é, também, reconhecer o trabalho, a sensibilidade e a paixão daqueles que fazem da sua vida um esforço para tornar possível o contato do público com as narrativas mais variadas. Por sorte, o 45º Festival Sesc Melhores Filmes é a chance de homenagear o cinema de todas essas maneiras. E a prova disso foi a cerimônia de premiação do evento, que ocorreu na quarta-feira (10) no CineSesc e marcou a abertura oficial desta edição do Festival.

Para uma audiência composta por diretores, atores, roteiristas, técnicos, convidados e demais profissionais do audiovisual, a apresentação da solenidade ficou por conta da atriz Camila Márdila, do filme Que Horas Ela Volta? (2015), que deu o tom da comemoração ao comparar a linguagem cinematográfica à literatura, às artes visuais, ao teatro e à indústria.  

Antes da revelação dos premiados da noite, o Superintendente Técnico Social do Sesc-SP, Joel Padula, saudou os gerentes e responsáveis pela organização do Festival e, em nome de Danilo Santos Miranda, Diretor Regional do Sesc-SP, ressaltou que a importância do evento reside justamente na ampliação do acesso dos mais diferentes tipos de espectadores a relevantes produções do cinema. “O Festival Sesc Melhores Filmes é uma oportunidade de congraçamento”, disse, referindo-se não apenas à programação diversificada como também aos aspectos de acessibilidade das sessões, cujos filmes terão audiodescrição e legendas open-caption.

Outro ponto importante sobre a democratização do Festival foi o destaque para a programação em outras unidades do Sesc na capital, no interior, no litoral e na Grande São Paulo. De 11 de abril a 1º de maio, os títulos do 45º Festival Sesc Melhores Filmes serão exibidos no CineSesc e nas unidades do Belenzinho, Campo Limpo, Interlagos, Parque Dom Pedro II e Santana. Em seguida, entre 1º de maio e 9 de junho, uma seleção dos filmes também poderá ser vista em unidades das cidades de Birigui, Registro, Guarulhos, Catanduva, Santo André e Bertioga.

Quem passar pelo CineSesc poderá, além de assistir aos filmes e participar das conversas e rodas de discussão, conhecer de perto a exposição Cinemagético, projeto assinado pela artista visual Rochelle Costi. A obra consiste em padronagens geométricas criadas a partir de diferentes cartazes que, como papel de parede, forram o saguão da unidade. Na parede do fundo, uma terceira padronagem, composta pelos cartazes dos 10 filmes vencedores na votação do público e crítica, divide espaço com caixas que reproduzem a frente de um palco de teatro – conhecida como “boca de cena” – e que trazem imagens dos filmes escolhidos.

Unanimidade

Na categoria de Filme Estrangeiro, a votação acompanhou as apostas do Oscar deste ano e revelou Roma, de Alfonso Cuarón, como o principal ganhador do 45º Festival Sesc Melhores Filmes. Na visão do público e da crítica, o longa mexicano teve a Melhor Direção e foi o Melhor Filme Estrangeiro de 2018. Yalitza Aparicio surgiu, além disso, como destaque pelo prêmio de Melhor Atriz, de acordo com o voto dos espectadores.  

Quem subiu ao palco para receber os troféus de Roma foi Oscar Soberanes Benítez, cônsul para Assuntos Culturais e Comunitários do México, que agradeceu pela homenagem, elogiou o Sesc pelas iniciativas no ramo cultural e enalteceu a obra de Cuarón: “é um poema cinético para além de minha experiência como mexicano”.

Em outra decisão unânime, O Processo, de Maria Augusta Ramos, foi eleito o Melhor Documentário Nacional tanto pela crítica quanto pelo público. Sob muitos aplausos, Karen Akerman, responsável pela edição do filme, representou a diretora – que não pôde comparecer à premiação – e afirmou que o resultado “não é só uma escolha cinematográfica, mas também um gesto político”.  

Premiados nacionais

Para a crítica, o grande vencedor na categoria nacional foi o filme Arábia, que levou, além do prêmio de Melhor Filme, os troféus de Melhor Ator para Aristides de Souza e Melhor Direção para Affonso Uchoa e João Dumans. Ao receber o troféu, Dumans agradeceu à equipe e pontuou que “todo filme é um encontro de muitas pessoas”. Já Vitor Batista, produtor do longa, aproveitou a sua fala para enfatizar a importância dos mecanismos de incentivo ao setor audiovisual, os quais, segundo ele, foram fundamentais para a realização da obra. “A gente vai continuar lutando para que eles existam”, concluiu.

Entre os críticos, outro destaque nacional foi o longa Benzinho, que consagrou Karine Teles duplamente: como Melhor Atriz e também pelo Melhor Roteiro, assinado por ela e por Gustavo Pizzi, diretor da produção. Por vídeo, Karine Teles agradeceu pela homenagem e, representada por Carol Condé, sua empresária, dedicou o prêmio a todas as mulheres invisíveis que se empenham a preencher o mundo de amor. Gustavo Pizzi, por sua vez, anunciou que foi uma honra muito grande ser reconhecido pelo Festival e declarou que lutou bastante para escrever e levar esse filme para todo o público.

Segundo os votos dos cinéfilos, o Melhor Filme Nacional de 2018 foi O Beijo no Asfalto, de Murilo Benício, escolhido ainda como Melhor Diretor e Melhor Ator, por seu papel em O Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida. O Beijo no Asfalto também conquistou da audiência os prêmios de Melhor Atriz (Debora Falabella), Melhor Fotografia (Walter Carvalho) e Melhor Roteiro (Murilo Benício). Como também não pôde participar da cerimônia, Débora Falabella gravou um vídeo no qual agradeceu pela conquista, reforçou a importância da arte do cinema e do teatro e citou uma fala da personagem de Fernanda Montenegro no mesmo filme: “nós sobrevivemos e nós sobreviveremos”. Murilo Benício lembrou das dificuldades de levar uma história de Nelson Rodrigues para as salas de cinema e confessou que a ideia principal da obra é reverenciar a profissão do ator, que, de acordo com ele, exige muito trabalho e estudo. “Esse filme teve a sorte grande de ter essas pessoas que elevaram o projeto.”

Para encerrar a premiação, a diretora Beatriz Seigner apresentou a sessão do filme Los Silencios, sua nova produção, que já foi destaque na seleção oficial da Quinzena dos realizadores do Festival de Cannes, ganhou o prêmio de melhor direção do 51º Festival de Brasília e de melhor filme pela crítica da Abraccine. Los Silencios estreia nesta quinta-feira (11) em várias cidades do país.

Confira a premiação completa do 45º Festival Sesc Melhores Filmes:

Crítica

  • Melhor Filme Nacional – Arábia
  • Melhor Direção Nacional – Alfonso Uchoa e João Dumas (Arábia)
  • Melhor Ator Nacional – Aristides de Souza (Arábia)
  • Melhor Atriz  – Karine Teles (Benzinho)
  • Melhor Documentário Nacional – O Processo
  • Melhor Fotografia Nacional – Rui Poças (As Boas Maneiras)
  • Melhor Roteiro Nacional – Gustavo Pizzi e Karine Teles (Benzinho)
  • Melhor Filme Estrangeiro – Roma
  • Melhor Direção Estrangeiro – Alfonso Cuarón (Roma)
  • Melhor Ator Estrangeiro – Daniel Day-Lewis (Trama Fantasma)
  • Melhor Atriz Estrangeiro – Frances McDormand (Três Anúncios Para um Crime)
  • Menção Honrosa – Daniela Demesa (Roma)
  • Menção Honrosa – Marco Graf (Roma)

Público

  • Melhor Filme Nacional – O Beijo No Asfalto
  • Melhor Direção Nacional – Murilo Benício (O Beijo No Asfalto)
  • Melhor Ator Nacional – Murilo Benício (O Animal Cordial)
  • Melhor Atriz – Debora Falabella (O Beijo No Asfalto)
  • Melhor Documentário Nacional – O Processo
  • Melhor Fotografia Nacional – Walter Carvalho (O Beijo no Asfalto)
  • Melhor Roteiro Nacional – Murilo Benício (O Beijo no Asfalto)
  • Melhor Filme Estrangeiro – Roma
  • Melhor Direção Estrangeiro – Alfonso Cuarón (Roma)
  • Melhor Ator Estrangeiro – John David Washington (Infiltrado na Klan)
  • Melhor Atriz Estrangeiro – Yalitza Aparicio (Roma)
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