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Premiada pela crítica e pelo público do Sesc, Bárbara Paz fala sobre Babenco e seus novos projetos em gestação

Bárbara Paz é uma artista inquieta. Já fez de tudo: peça de teatro, novela, foi campeã de reality show, dirigiu curta e, depois de uma longa gestação emocional, finalizou o seu primeiro longa-metragem como diretora. Um filme muito pessoal, como não poderia deixar de ser para essa gaúcha de Campo Bom que se mudou para São Paulo aos 18 anos, após a morte da mãe, e daqui nunca mais saiu.

Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer parou, um ensaio livre e muito afetuoso que retrata os nove anos de relação com o cineasta Hector Babenco até sua morte em 2016, chegou a lugares que ela não podia imaginar. Uma consagração que começou com um Leão de Ouro no Festival de Veneza e chegou até o reconhecimento da crítica e do público no Festival SESC Melhores Filmes deste ano.

Héctor Babenco em cena do documentário Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer parou, dirigido por Bárbara Paz

Na cerimônia do último dia 7 de abril, ao receber os prêmios online, Bárbara, emocionada, lembrou que o Cinesesc da rua Augusta era o destino preferido dela e de Hector quando queriam ir ao cinema. “Esse prêmio é especial, muito comovente. O Sesc é o berço da cultura no Brasil. Assisti a tantos filmes, aulas e palestras em todas as unidades. A gente sempre olhava primeiro a programação do Cinesesc, porque tem a melhor curadoria, a melhor programação. São muitas histórias ali, e o momento mais inesquecível foi quando o Hector recebeu o Prêmio Especial da Mostra de São Paulo nessa sala. Ter o registro dele ali, no palco do Cinesesc, foi muito importante pra mim”, contou Bárbara em entrevista exclusiva.

A mulher de mil projetos

Sobre os nove anos com Hector, o resultado está na tela. “Quando duas pessoas se unem, é pra evoluírem juntos, um segurar a mão do outro. A gente cresceu e evoluiu junto. Comigo, acho que ele teve um pouco mais de energia, de criação, de tempo de vida, pra tentar se segurar aqui. Babenco, meu filme, não faz uma filmografia de toda a obra dele. É um retrato íntimo desse homem, pensador e poeta. É uma síntese de tudo o que vivemos, nosso amor, amizade e cumplicidade”, define a diretora. “Nunca houve uma relação de professor e aluna, o que eu recebi não foram lições. Era uma relação livre para voar, para o que a gente quisesse fazer”.

E como está a artista Bárbara desde que a pandemia trancou todos em casa, há mais de um ano? Em todo este tempo, ela não parou. “Nos primeiros meses eu criei muito. Fiquei muito sozinha, não estou namorando, ficamos só eu e meu cachorro que surgiu no meio da pandemia. Fiz videoarte, fotografei, fiz um diário visual. Produzi o Projeto Solidão, com depoimentos de pessoas falando sobre suas próprias solidões. Dirigi o curta O Ato, em Ouro Preto, com a turma do Teatro em Movimento de Belo Horizonte. Dirigi um show do Lirinha na Casa de Francisca – tudo seguindo os protocolos.” E ainda teve a campanha de Babenco pro Oscar – o filme acabou não conseguindo sua sonhada indicação – e o lançamento do filme nas salas de cinema, que acabou reduzido. Mas Babenco seguiu uma forte carreira no streaming, sempre coroado por prêmios. “Não deu tempo pro ócio, pro vazio, pro buraco”, resume.

Nos últimos meses, Bárbara se refugiou num recanto que tem na Bahia. E ainda encontrou um tempo para integrar o elenco do novo filme A porta ao lado , com direção de Julia Rezende (de Meu passado me condena e Depois a louca sou eu). As filmagens foram interrompidas três vezes por conta da pandemia, mas serão concluídas em breve. “Nossa, tantas coisas… só agora eu fiz a lista de tudo o que foi feito”. 2021 já foi um ano de mais descanso e esvaziamento, uma gestação necessária para as próximas empreitadas, meditando, fazendo sua ioga. “Estou num momento de ver aonde vou amarrar meu burro agora… Me apaixonar pelo quê, por quem… Porque na vida precisamos estar apaixonadas, amando o tempo inteiro.”


Bárbara Paz

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