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Faixa especial “Amor ao Cinema” encerra o 49º Festival Sesc Melhores Filmes

Na semana derradeira do 49º Festival Sesc Melhores Filmes, a programação prepara uma prévia da próxima mostra que entra em cartaz na sala do CineSesc. Dentro do festival, a faixa temática “Amor ao Cinema” exibe cinco títulos, entre clássicos e obras contemporâneas, que se conectam por um sentimento comum: o amor à magia da linguagem cinematográfica. Em um exercício de metalinguagem em alguns casos, os filmes exibidos celebram a produção audiovisual que é retratada em suas próprias histórias.  

Para dar um gostinho e preparar o público para a maratona, que começa no dia 27 de abril e segue até 10 de maio, o blog do FSMF comenta os cinco filmes que formam o bloco de homenagem da faixa “Amor ao Cinema”.

Cena do filme "Cantando na Chuva.

Cantando na Chuva (1952), de Stanley Donen e Gene Kelly 
Esse musical dispensa apresentação, mas é impossível não engrandecer o fascínio de sua história recheada de nostalgia e de seus inesquecíveis números musicais. “Cantando na Chuva” ocupa lugar cativo entre as produções mais adoradas da história do Cinema, e é figurinha carimbada nas listas que elencam os melhores filmes de todos os tempos.  

A trama se passa em Hollywood, no ano de 1927, em meio a uma grande mudança na indústria cinematográfica: a transição do cinema mudo para o falado. Esse é o pano de fundo para uma comédia romântica musical das mais encantadoras, protagonizada por Gene Kelly e Debbie Reynolds, absolutamente perfeitos em cena. Ele faz um ator consagrado do cinema mudo, e ela interpreta uma atriz novata em busca do estrelato e recrutada para dublar Lina Lamont (a hilária Jean Hagen, indicada ao Oscar pelo papel), uma atriz adorada pelo público e que tem uma voz horrível. As gravações do filme dentro do filme são tumultuadas, mas a situação piora quando um deles se apaixona.  

“Cantando na Chuva” não é um filme memorável somente pelas suas canções clássicas em cenas marcantes, como “Good Morning”, a participação de Cyd Charisse em “Broadway Rhythm Ballet” ou a canção-título “Singin’ in the Rain”. O filme vai além de alguns momentos isolados: é uma ode radiante ao cinema em um período em que os musicais representavam o auge criativo do cinema hollywoodiano. Nem todos resistiram ao teste do tempo; “Cantando na Chuva” certamente é um deles.  

Cena do filme "Rebobine, Por Favor"

Rebobine, Por Favor (2008), de Michel Gondry 
Por acidente, o cliente de uma videolocadora apaga todo o conteúdo das fitas VHS disponíveis para locação nas prateleiras. O funcionário da videolocadora é o seu melhor amigo, e juntos chegam a uma solução para não falir o negócio: refilmar todos os filmes com as próprias mãos. A dupla não esperava, no entanto, que essa medida para “tapar buraco” fosse ser um estrondoso sucesso entre os clientes. E assim, com a ajuda de alguns moradores do bairro, os rapazes refilmam “Os Caça-Fantasmas”, “Robocop”, “O Rei Leão”, “A Hora do Rush 2”, “Conduzindo Miss Daisy”, entre outros títulos populares do cinema norte-americano.  

Dirigida pelo francês Michel Gondry, e estrelada por Mos Def e Jack Black, essa inspirada comédia de erros sublinha a importância do cinema de baixíssimo orçamento, realizado com poucos recursos e muita criatividade. Durante o filme, é interessante notar em algumas cenas quais são as ferramentas encontradas pelos personagens na hora de gravar, por exemplo, uma perseguição em um arranha-céu ou a explosão de um carro no meio da rua. Sem se prolongar sobre as técnicas cinematográficas, “Rebobine, Por Favor” também faz esse “serviço” de dar a receita para quem pretende se aventurar na produção de filmes caseiros.  

No entanto, o que levamos da sessão de “Rebobine, Por Favor”, sobretudo, é a lição de que o cinema é um trabalho coletivo e que, de preferência, deve ser apreciado também coletivamente.

Cena do filme "Depois da Vida"

Depois da Vida (1998), de Hirokazu Kore-eda 
Um dos primeiros filmes da carreira do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda, o belíssimo “Depois da Vida” tem uma premissa, no mínimo, instigante: em um lugar situado entre o Céu e a Terra, indivíduos recém-falecidos são recebidos por seus guias espirituais. Durante uma semana, esses guias ajudam os mortos a revisitar suas lembranças para escolher uma única memória de suas vidas que poderão levar consigo para a eternidade. Em seguida, os mortos descrevem a lembrança escolhida para que uma equipe de cineastas possa capturá-la em filme, garantindo que ela possa existir para sempre. 

E assim, podemos dividir “Depois da Vida” em duas partes. A primeira enfoca os personagens narrando suas recordações mais emocionantes, e a outra metade prioriza a equipe técnica recriando a memória dos mortos em um estúdio de cinema. Imerso em uma atmosfera melancólica, o filme evoca uma reflexão existencial quando posiciona pessoas com vivências diferentes lidando com a própria finitude. O espectador, da mesma forma, é convidado a fazer parte dessa provocação: até agora em sua vida, qual a lembrança que você tornaria eterna?  

Nesse exercício de revisão, Kore-eda repassa alguns episódios centrais da história do Japão durante o século XX, como a participação na Segunda Guerra Mundial e outras tragédias cotidianas. Mas o ponto central do resgate da memória é a virtude de se descobrir como elemento crucial da felicidade de outra pessoa. Uma peculiaridade que torna “Depois da Vida” um projeto ainda mais especial é que muitos dos personagens recém-falecidos entrevistados não são atores profissionais, e sim pessoas idosas da vida real que compartilham suas lembranças afetivas.

Cena do filme "Adeus, Dragon Inn"

Adeus, Dragon Inn (2003), de Tsai Ming-liang 
Candidato ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, “Adeus, Dragon Inn” é uma comovente homenagem aos antigos cinemas de rua, que já foram capazes de abrigar mais de mil pessoas e hoje estão praticamente extintos. A trama é silenciosa em seu retrato sobre a decadência das salas de cinemas e a solidão de seus frequentadores, a ponto de um deles achar que o local é assombrado. E o filme colabora para essa percepção, favorecendo uma abordagem um tanto fantasmagórica nas cenas em que explora as dependências sucateadas de um cinema que parece ter sido esquecido no tempo.  

A história acompanha o último dia de funcionamento de um velho cinema em Taipé, onde está sendo exibido um clássico de artes marciais, “Dragon Inn” (1967), dirigido por King Hu. Apesar da chuva torrencial, um jovem japonês faz questão de estar presente na última sessão. No local, encontram-se poucos espectadores, além das pessoas que trabalham lá. Na plateia, há atores veteranos do filme e uma maioria de homens que buscam sexo anônimo com garotos de programa. 

Vinte anos após o seu lançamento, no contexto atual de que os canais de streaming estão em alta, “Adeus, Dragon Inn” recebe novas – e sombrias – interpretações.

Cena do documentário "Um Filme de Cinema".

Um Filme de Cinema (2017), de Walter Carvalho 
No documentário “Um Filme de Cinema”, o brasileiro Walter Carvalho elabora um brilhante ensaio sobre a concepção do cinema de enquadrar o tempo, o espaço e o som em um único plano. Para isso, conta com a ajuda de diversos cineastas de diferentes nacionalidades para filosofar e responder a questões relacionadas ao poder da imagem em movimento. Participam do documentário Gus van Sant, Béla Tarr, Jia Zhangke, Ruy Guerra, Ken Loach, Julio Bressane, Lucrecia Martel, Asghar Farhadi, Karim Aïnouz, Hector Babenco, entre outros nomes consagrados do cinema mundial.  

Nota-se que as entrevistas com os cineastas foram gravadas em anos diferentes, o que torna muito interessante como a percepção do tempo gera embate ou concordâncias com o pensamento de cada um. Da mesma forma, considerando que os cineastas citados são oriundos de escolas cinematográficas distintas, “Um Filme de Cinema” se apresenta como um caleidoscópio das possibilidades de se compreender a obra audiovisual e a manipulação dos elementos cênicos básicos. Entre os depoimentos, são intercaladas cenas de alguns filmes clássicos, de Godard a “Limite”, de Mário Peixoto.  

Os cinco filmes citados acima serão reexibidos na mostra Amor ao Cinema do CineSesc, junto a outros clássicos como “Crepúsculo dos Deuses” (1950), de Billy Wilder; “A Noite Americana” (1973), de François Truffaut; “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985), de Woody Allen; e “Cinema Paradiso” (1988), de Giuseppe Tornatore. Dentre os títulos do cinema nacional, será exibidao a refilmagem “Matou a Família e Foi ao Cinema” (1991), de Neville D’Almeida; a comédia “Saneamento Básico, o Filme” (2007), de Jorge Furtado; e os documentários “Cine Marrocos” (2018), de Ricardo Calil, e “A Mulher de Luz Própria” (2019), de Sinai Sganzerla.  

Para conferir a programação completa da mostra Amor ao Cinema, clique aqui

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