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A pluralidade do cinema nacional na programação do 48º Festival Sesc Melhores Filmes

Por Elton Telles

A programação do 48º Festival Sesc Melhores Filmes é um reflexo da diversidade enriquecedora do atual cinema brasileiro. Nas três semanas do festival, foram exibidos 21 longas-metragens nacionais na sala do CineSesc e também na plataforma Sesc Digital. Cada filme, entre vencedores e candidatos aos prêmios do público e crítica, é singular e exibe qualidades notáveis, mesmo os que dialogam entre si, seja no campo da linguagem empregada pelos realizadores ou na temática abordada pela história. 

Um exemplo que salta aos olhos é “Selvagem”, de Diego da Costa, e “Cabeça de Nêgo”, de Déo Cardoso. Declaradamente dois representantes do cinema de resistência, podemos considerar ambos os títulos como “filmes primos” pela proximidade da história, que retrata a ocupação nas escolas públicas liderada por estudantes secundaristas na exigência de melhores condições de ensino e infraestrutura. O discurso politicamente engajado dos filmes – “Selvagem” se passa em São Paulo, enquanto “Cabeça de Nêgo” é ambientado no Ceará – colide apesar da diferença geográfica e apresenta, em diferentes tonalidades, realidades distintas dentro de um mesmo sistema de precariedade na educação. 

Outro fator que merece destaque na menção destes dois títulos é a representatividade. Com elenco majoritariamente composto por intérpretes negros, incluindo os jovens protagonistas (Kelson Succi, Fran Santos e Lucas Limeira), o diferencial de “Selvagem” e “Cabeça de Nêgo” começa na escalação dos atores. Na programação do 48º FSMF, outros três filmes enfocam o protagonismo negro em suas histórias: “Marighella”, de Wagner Moura, “Doutor Gama”, de Jeferson De, e “7 Prisioneiros”, de Alexandre Moratto. Os dois primeiros são cinebiografias elogiadas de personagens históricos e fundamentais da nossa história – o revolucionário Carlos Marighella e o advogado abolicionista Luiz Gama. Já “7 Prisioneiros”, não menos politizado, aborda com realismo o espinhoso tema da escravidão moderna e tráfico humano praticados por criminosos, herança do nosso passado mal resolvido que reverbera até os dias de hoje. 

Vencedor do prêmio de Melhor Documentário pela crítica, “A Última Floresta”, de Luiz Bolognesi com roteiro de Davi Kopenawa Yanomami, é um brilhante exemplo do cinema indígena brasileiro, que, com as constantes ameaças e invasões de território dos povos nativos por garimpeiros, vem ganhando cada vez força e respaldo nas produções audiovisuais. Outro documentário presente na programação do festival que retrata a luta de um grupo é “Chão”, de Camila Freitas, que vivencia a ocupação por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MTST) em uma usina de cana-de-açúcar em processo de falência.

“Chão”, inclusive, é um dos filmes nacionais dirigidos por cineastas mulheres que abrilhantam a programação do 48º Festival Sesc Melhores Filmes. Os demais são “Meu Nome é Bagdá”, de Caru Alves de Souza, “Alvorada”, de Anna Muylaert e Lô Politi, e “O Palhaço, Deserto”, de Patrícia Lobo. Além destes, é preciso mencionar que os dois filmes de abertura desta edição foram conduzidos por diretoras: “Medusa”, de Anita Rocha da Silveira, foi exibido na sessão presencial na sala do CineSesc, e “A Felicidade das Coisas”, de Thais Fujinaga, deu a largada na programação online do festival, na plataforma Sesc Digital. 

Ainda sobre diversidade e o espaço dedicado para narrar histórias de minorias no cinema, o 48º FSMF exibiu quatro títulos com temática LGBTQIA+ que compartilham experiências pessoais sobre afirmação, aceitação da sexualidade e rompimento com o preconceito. Os filmes são o provocante “Vento Seco”, de Daniel Nolasco; “Valentina”, de Cássio Pereira dos Santos (vencedor do prêmio de Melhor Atriz pela crítica para a estreante Thiessa Woinbackk); “Piedade”, de Cláudio Assis (vencedor do prêmio de Melhor Atriz pelo público para Fernanda Montenegro) e “Deserto Particular”, de Aly Muritiba (vencedor de Melhor Roteiro e Fotografia pela crítica). 

Mesmo em um ano atípico por conta da pandemia e a limitação de títulos que conseguiram encontrar o público e estrear no circuito de cinema, 2021 se estabeleceu como um período frutífero para a cinematografia brasileira. A programação do 48º FSMF foi uma amostra dos títulos mais celebrados da última safra, com toda a sua excelência e pluralidade. 

Até o ano que vem com a edição 49 do Festival Sesc Melhores Filmes!

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