“Todo trabalho de preservação é para o futuro”

Hernani Heffner nunca se considerou um restaurador. “Meu trabalho sempre foi o passado”, afirmou o pesquisador, que já trabalhou no arquivo da Cinemateca do MAM-RJ e participou, na terça-feira (16), do Cinema da Vela, bate-papo realizado no CineSesc durante o 45º Festival Sesc Melhores Filmes.

A partir do tema “Restauração e Memória” e da mediação da jornalista e documentarista Flavia Guerra, o encontro ainda reuniu nomes como Patricia de Filippi, coordenadora do LAB Restauro com anos de experiência como diretora da Cinemateca Brasileira, e Myra Babenco, filha do diretor Hector Babenco, que está à frente do projeto de restauração dos filmes do pai.

Para Hernani, que coordenou a restauração de produções como Ébriom, Alô! Alô! Carnaval! e Bonequinha de Seda, o que está em jogo na manutenção da memória fílmica é justamente a compreensão dos acontecimentos que estão em curso no presente e de que forma eles podem se desencadear nos dias que virão. “Todo trabalho de preservação é para o futuro”, ressaltou.

Foto: Marcos Finotti
Foto: Marcos Finotti

Desafios da restauração

A primeiro grande questão da restauração, segundo o pesquisador, é entender como determinada sociedade ou cultura lida com o seu passado. No Brasil, por exemplo, ele explicou que existe a tendência de rejeitarmos os episódios da nossa história. “A República nasceu com a ideia de que o passado precisa ser esquecido ou queimado”. Outro obstáculo apontado por Hernani é o alto custo de um projeto de restauração, o que dificulta que o trabalho de preservação da produção cinematográfica seja percebido como uma prioridade. “O desafio se tornou muito mais significativo”, ponderou.

Patricia de Fillipi informou que o valor gasto em um processo de restauro depende muito da matriz da obra. Em alguns casos, o trabalho pode levar menos tempo e não demandar tantos recursos. Em outros, pode haver a necessidade de recuperação não apenas da imagem como também do som, o que requer um serviço mais acurado. A restauradora estimou, no entanto, que o preço médio de um projeto de restauração gira em torno de 300 ou 400 mil reais. “A preservação e o preparo para difusão precisam estar acompanhados”.

Segundo Patricia, um modelo que ajudou a viabilizar os custos com a preservação e restauração de filmes e documentos em seus anos na Cinemateca foram as parcerias com outras instituições. “Foram fundamentais nossas parcerias públicas e privadas, tanto nacionais quanto internacionais”. Neste sentido, ela destacou o apoio da The Film Foundation, iniciativa criada pelo diretor norte-americano Martin Scorsese para preservar a filmografia de países economicamente menos privilegiados e representada no Brasil pelo realizador Walter Salles.

Foto: Marcos Finotti
Foto: Marcos Finotti

Uma homenagem ao cinema

Pixote – A Lei do Mais Fraco, filme de Hector Babenco que está na programação do 45º Festival Sesc Melhores Filmes, é uma das produções cujo restauro contou com a contribuição de Patricia de Filippi. De acordo com Myra Babenco, a restauradora será responsável, também, pela restauração de outras obras de seu pai. “Mostrar o Pixote é a nossa forma de conseguir viabilizar o projeto inteiro”, declarou.

Com o apoio de incentivos fiscais da Lei Rouanet e de um edital que contempla propostas de restauração, Myra contou que a ideia é dar conta de uma das maiores preocupações de Babenco, falecido em 2016: garantir que seus longas sejam vistos em tela grande.

Agora, a partir da união de esforços de profissionais brasileiros e italianos, já é possível testemunhar as imagens originais de um dos retratos da nossa realidade que, de acordo com Myra, dialoga de forma tão visionária com o momento atual. “Apresentar esse filme restaurado é a nossa grande homenagem ao cinema ao Hector”.

Os ingressos para a sessão de Pixote – A Lei do Mais Fraco, no dia 25 de abril, às 16 horas, no CineSesc, já estão disponíveis.  

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