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‘Não nos deixe ser uma exceção’: 49º FSMF consagra ‘Marte Um’ e profissionais negros do audiovisual brasileiro

A diversidade e as histórias protagonizadas por pessoas negras foram celebradas na cerimônia de premiação do 49º Festival Sesc Melhores Filmes, que aconteceu na última quarta-feira, dia 5, com apresentação do ator Christian Malheiros. A edição bateu recorde de participação, com o total de 115 mil votos dos espectadores, além dos 133 jornalistas e críticos de cinema que escolheram seus preferidos do ano passado. O belíssimo “Marte Um”, de Gabriel Martins, confirmou o favoritismo tanto com público quanto com a crítica e ganhou em 10 categorias das 12 nas quais estava concorrendo.

O longa mineiro, escolhido para representar o Brasil na última edição do Oscar, recebeu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro (ambos para Martins) e Melhor Fotografia (Leonardo Feliciano) pelos votos democráticos dos dois júris. Pela crítica, os intérpretes principais de “Marte Um”, Carlos Francisco e Rejane Faria, foram reconhecidos nas categorias Melhor Ator e Melhor Atriz, respectivamente. Já o público escolheu Seu Jorge e Taís Araújo pelas suas atuações no sci-fi político “Medida Provisória”, de Lázaro Ramos, uma das maiores bilheterias do cinema nacional em 2022.  

O cinema negro brasileiro foi o grande protagonista desta edição, e o reconhecimento foi amplificado pelo discurso dos profissionais que subiram ao palco do CineSesc para receber os prêmios. O cineasta Gabriel Martins exaltou que os quatro atores brasileiros premiados foram homens e mulheres pretas, e se disse honrado de ter sido duplamente contemplado por uma produção que fez sucesso com o público. 

“Eu gostaria de fazer um pedido simples: não nos deixe ser uma exceção. Claro que existem filmes especiais e que vão trilhar caminhos particulares, mas há um abismo com vários outros projetos que, às vezes, não conseguem fazer um número mínimo de espectadores. Eu já estive nesse lugar, e a gente quer sempre ser visto, a gente quer muito trabalhar, queremos ser chamados para fazer papéis mais amplos. Por isso, eu peço para que não deixem noites como essa serem raras, e que a gente possa cada vez mais celebrar a negritude no cinema e quem normalmente não tem uma voz”, declarou Martins.

Gabriel Martins discursa após receber prêmio de Melhor Roteiro. Foto: Carol Mendonça

Neste ano, Seu Jorge ganhou novamente o prêmio de Melhor Ator que já havia consquitado no ano passado pela cinebiografia “Marighella”. Em seu agradecimento, o artista relembrou os seus primeiros passos como ator integrante da companhia de teatro popular da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), onde teve autorização da reitoria, em 1993, para passar as noites. “Eu gostaria de saudar o Lázaro Ramos por fazer história com ‘Medida Provisória’, porque depois de tanto tempo, este é uma produção que uniu profissionais negros atrás e na frente das câmeras, e eu me sinto muito honrado de fazer parte deste trabalho. Gostaria de agradecer, sobretudo, o público que permitiu que um filme de arte como o nosso ficasse 28 semanas em cartaz, e nós sabemos que essa marca é muito difícil no Brasil”, disse Seu Jorge em seu discurso.  

Seu Jorge durante a cerimônia de premiação do 49º Festival Sesc Melhores Filmes. Foto: Carol Mendonça

Quanto aos documentários nacionais, o público escolheu “Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo”, dirigido por Taciana Oliveira. O filme promove um retrato intimista de Lispector, mergulhando na mente criativa e atormentada de uma das maiores romancistas da literatura mundial. Já o corpo da crítica premiou o excepcional “Segredos do Putumayo”, de Aurélio Michiles, sobre as investigações registradas em 1910 pelo ativista e cônsul britânico Roger Casement, que testemunhou a escravização e extermínio de milhares de indígenas na coleta de látex para produção de borracha, na selva Amazônica.

Aurélio Michiles recebe prêmio de Melhor Documentário.
Aurélio Michiles recebe prêmio de Melhor Documentário. Foto: Carol Mendonça

Ao receber o prêmio, Michiles ressaltou que as mesmas situações absurdas e revoltantes que ocorreram há 100 anos e são resgatadas em seu filme continuam acontecendo atualmente. “Mas hoje há uma diferença que me alegra muito, porque eu consigo enxergar uma esperança no horizonte. Nós estamos vendo que os povos indígenas estão assumindo protagonismo na nossa vida. Isso é extraordinário. Todos os dias eu venho pensando nisso quando vejo surgir uma liderança indígena fazendo filme, escrevendo livro, desenhando, fazendo estruturas e ingressando na política. Esse é o Brasil que a gente almeja, esse é o Brasil que eu estou torcendo e que eu sempre sonhei.” 

Todas as produções premiadas e mais tantos outros títulos – 35, no total – compõem a programação do 49º Festival Sesc Melhores Filmes, que acontece até o dia 26 de abril no CineSesc. Para conferir os dias e horários das sessões, além de adquirir antecipadamente o seu ingresso, basta acessar aqui

Premiados estrangeiros 

Na ala do cinema estrangeiro, a maioria dos votos do público concedeu o prêmio de Melhor Filme a “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, atual vencedor do Oscar com 7 estatuetas. Seus realizadores, Daniel Kwan e Daniel Scheinert, também foram escolhidos na categoria Melhor Direção. A atuação feminina preferida do público foi a da atriz estadunidense Viola Davis no drama histórico “A Mulher Rei”, dirigido por Gina Prince-Bythewood. Na trama, Davis interpreta a general Nanisca, líder de um grupo de mulheres guerreiras e guardiãs de um reino africano.  

O prêmio de Melhor Ator Estrangeiro foi para o irlandês Paul Mescal, no papel de um pai jovem com indícios de depressão que está em período de férias com a filha no singelo “Aftersun”, da estreante Charlotte Wells. Nesta categoria, público e crítica entraram em acordo, já que Mescal foi o mais votado por ambos os júris. Na avaliação da crítica, “Aftersun” levou outros dois troféus: Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Direção Estrangeira para Wells. “Aftersun” é o terceiro filme consecutivo dirigido por uma cineasta mulher que recebe o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro pela crítica, sendo precedido por “Retrato de uma Jovem em Chamas” (2020), de Céline Sciamma, e “Ataque dos Cães” (2021), de Jane Campion.  

Tal qual no Oscar 2023, a asiática Michelle Yeoh foi premiada como a Melhor Atriz Estrangeira no 49º FSMF pelos críticos de cinema brasileiros. No filme “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, a veterana interpreta uma imigrante chinesa que recebe a missão de salvar o mundo, fazendo com que ela acesse outras realidades paralelas para adquirir poderes e habilidades.  

O 49º Festival Sesc Melhores Filmes foi apresentado com competência e simpatia pelo jovem ator Christian Malheiros, estrela de “Sócrates” (2018) e “7 Prisioneiros” (2021), ambos de Alexandre Moratto. O filme de abertura do evento, exibido logo após a premiação, foi o inédito “Tinnitus”, de Gregório Graziosi, que será lançado nos cinemas brasileiros no mês de junho. 

Confira abaixo os vencedores do Público e da Crítica em todas as categorias do 49º Festival Sesc Melhores Filmes : 

PÚBLICO – CATEGORIAS NACIONAIS 
Melhor Filme: Marte Um 
Melhor Documentário: Clarice Lispector – A Descoberta do Mundo, de Taciana Oliveira 
Melhor Direção: Gabriel Martins (Marte Um) 
Melhor Atriz: Taís Araújo (Medida Provisória) 
Melhor Ator: Seu Jorge (Medida Provisória) 
Melhor Roteiro: Gabriel Martins (Marte Um) 
Melhor Fotografia: Leonardo Feliciano (Marte Um) 

PÚBLICO – CATEGORIAS ESTRANGEIRAS 
Melhor Filme: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo 
Melhor Direção: Daniel Kwan, Daniel Scheinert (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo) 
Melhor Atriz: Viola Davis (A Mulher Rei) 
Melhor Ator: Paul Mescal (Aftersun) 

CRÍTICA – CATEGORIAS NACIONAIS 
Melhor Filme: Marte Um 
Melhor Documentário: Segredos do Putumayo, de Aurélio Michiles 
Melhor Direção: Gabriel Martins (Marte Um) 
Melhor Atriz: Rejane Faria (Marte Um) 
Melhor Ator: Carlos Francisco (Marte Um) 
Melhor Roteiro: Gabriel Martins (Marte Um) 
Melhor Fotografia: Leonardo Feliciano (Marte Um) 

CRÍTICA – CATEGORIAS ESTRANGEIRAS 
Melhor Filme: Aftersun 
Melhor Direção: Charlotte Wells (Aftersun) 
Melhor Atriz: Michelle Yeoh (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo) 
Melhor Ator: Paul Mescal (Aftersun) 

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