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Encontro realizado sobre a força do cinema nordestino reúne alguns de seus melhores talentos

Cena de A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante

O Som ao Redor, Amarelo Manga, A História da Eternidade, Pacarrete, Bacurau… O cinema feito no Nordeste ganhou nossas mentes e corações nas últimas décadas, conquistou festivais pelo mundo, fizeram o Brasil todo conhecer um jeito de filmar muito diferente do eixo Rio-São Paulo.

O debate Cinema nordestino contemporâneo: Uma só identidade reuniu alguns dos grandes talentos em evidência na região hoje, com mediação da jornalista pernambucana Luciana Veras. “O Nordeste não é um só. Somos nove estados, milhares de sotaques. Não é mais o mesmo filmado pelo Cinema Novo dos anos 60, nem mesmo aquele do início dos anos 2000”, lembrou ela. Como dar conta dessas mudanças?

“Não é mais um Nordeste amarelado do cinema de antigamente, mas que pode ser colorido, ou preto-e-branco, ou até destoar em termos de som. Filmamos agora um sertão que tem acesso ao celular, à televisão, com as crianças conectadas desde muito cedo”, lembrou o paraibano Allan Deberton, diretor de Pacarrete, filme que venceu sete prêmios – melhor filme, direção e atriz pelo público e crítica, mais o prêmio do público de fotografia – na última premiação do Festival SESC Melhores Filmes.

“De onde vem essa força do cinema nordestino? Onde esses filmes se encontram? Há uma força inconsciente que une a gente”, questionou o cearense Petrus Cariry, diretor de filmes como O Barco e Mãe e Filha.

Quem respondeu foi Camilo Cavalcante, diretor pernambucano de A História da Eternidade – em cartaz na programação do festival, na plataforma Sesc Cinema em Casa – defende que o cinema nordestino tem uma energia própria que o diferencia e o sublima. “Se você pega o cinema de Claudio Assis (Amarelo Manga, Piedade) ou do Lírio Ferreira (Baile Perfumado, Sangue Azul), esses filmes não são unanimidade. São obras imperfeitas, mas muito honestas, cheias de alma. Nosso cinema está mais interessado no processo que no produto”, definiu.

Cariry ainda lembrou da importância da revolução digital, com equipamento mais barato e acessível, para a explosão do novo cinema nordestino. “Lembro que eu tinha acabado de fazer O Grão, meu primeiro longa, estava meio sem saber o que fazer, e as câmeras digitais ajudaram a botar de pé meu seu segundo longa, Mãe e Filha”, lembrou.

Marcélia Cartaxo, prêmio do público e da crítica de melhor atriz de 2020 por Pacarrete e homenageada do festival, percebe uma grande evolução na percepção do público de quando começou – em 1980, com A Hora da Estrela, também em cartaz no festival – para agora. “Passei muitos anos da minha vida tentando me descaracterizar, tendo que contar as nossas histórias do ponto de vista de diretores paulistas e cariocas. Hoje sinto muito orgulho dessas nossas visões do Nordeste. Quando falam de mim hoje, não falam daquela atriz paraibana, mas de uma atriz”, falou. Seu diretor, Allan Deberton, defendeu: “Marcélia tem a obrigação de estar no maior número possível de filmes, porque é uma das maiores atrizes que nós temos.”

Glenda Nicácio, cineasta mineira que encontrou seu caminho no cinema no Recôncavo Baiano em filmes como Até o Fim e Café com Canela, falou da importância do olhar dos nordestinos – de nascimento ou coração – para construir esse cinema. “O Nordeste que eu vejo, a cachoeira que eu enxergo, só eu enxergo. Isso tem a ver com infância, com memória.” E destacou a importância da arte em conjunto. “Você nunca está sozinho, nunca é apenas um trabalho. A gente vai se enraizando. E o cinema é a possibilidade de algo industrial a partir desse lugar da trupe.”

Assista ao encontro na íntegra.

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