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Dos filmes brasileiros que estrearam no cinema em 2022, apenas 21% são dirigidos exclusivamente por mulheres

Em 2022, foram lançado 143 longas-metragens brasileiros no circuito comercial de cinema. Deste total, 31 filmes foram dirigidos exclusivamente por mulheres, o que corresponde a 21%. Se considerarmos as produções “mistas”, isto é, em que homens e mulheres dividem o crédito da direção, a conta aumenta para 38 títulos (26%), o que ainda resulta em uma quantidade muito pequena. Nota-se que metade destes filmes são documentários.  

De acordo com o levantamento do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA), das 10 maiores bilheterias do cinema nacional no ano passado, somente 1 filme dirigido por mulher está presente no ranking: o infantil “Pluft, o Fantasminha”, de Rosane Svartman, que ocupa a décima posição com 121 mil espectadores.  Outro destaque de 2022, foi o longa-metragem “Carvão”, de Carolina Markowicz. Apesar de não figurar entre as maiores bilheterias do ano, fez carreira em festivais nacionais e internacionais, e levou 3 prêmios no Festival do Rio: Melhor Roteiro, Melhor Direção de Arte e Melhor Atriz Coadjuvante para Aline Marta Maia.

Cena do filme "Pluft, o fantasminha", dirigido por Rosana Svartman.
Cena do filme “Pluft, o fantasminha”, dirigido por Rosana Svartman. Foto: Divulgação

No ano de 2014, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) publicou no Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro um balanço inédito contendo o percentual de gênero na direção de longas-metragens que chegavam às salas de exibição do país. Nos anos seguintes, o escopo de análise foi ampliado e passou a incluir produções televisivas, curtas e médias-metragens que constassem na base de dados do Certificado de Produto Brasileiro, emitido pela agência.  

Desta forma, era elaborado um diagnóstico anual robusto quantificando a presença de mulheres não somente na função de diretora, mas em todos os cargos requeridos na equipe técnica de uma produção audiovisual. O documento é intitulado “Participação feminina na produção audiovisual brasileira” e pode ser acessado no site da Ancine.  

No entanto, o que parecia ser um movimento foi só um momento. Essa importante pesquisa teve procedência entre 2015 e 2018, e depois foi descontinuada.  

Para a jornalista Luísa Pécora, criadora e editora do site Mulher no Cinema, o retorno deste levantamento oficial da Ancine seria fundamental para o avanço da discussão da desigualdade de gênero no audiovisual brasileiro. “Quando a Ancine começou a publicar esses dados, ela sinalizou que a questão de gênero e raça é relevante e precisa ser colocada na mesa. Essa publicação é uma ferramenta muito importante para compreendermos o cenário que temos atualmente, qualificar o debate e ajudar a definir os próximos passos”, opina.  

Ainda que considere os dados fundamentais, Pécora também acredita que outras frentes têm de ser analisadas na busca por um audiovisual mais igualitário. “Mesmo que tivéssemos 50% de filmes dirigidos por mulheres, seria preciso entender que mulheres são essas. São somente mulheres brancas? Elas vêm de diferentes regiões do país? Quanto ao orçamento da produção, o valor é muito inferior se comparado aos dos filmes dirigidos por homens? São muitas nuances que devem ser analisadas porque são inerentes a essa discussão complexa. Somente o número, embora importante para termos uma noção, não dá conta de tudo”, declara. 

A jornalista identifica que o debate sobre diversidade no audiovisual foi fortalecido nos últimos anos, tendo a imprensa, as redes sociais e as pessoas no geral comentando mais sobre o assunto. A criação de coletivos formados por mulheres profissionais do cinema, promovendo encontros e atividades de formação, é outro ponto destacado por Pécora. “Existe a movimentação, tem coisas acontecendo, oportunidades que as mulheres estão conquistando e abrindo caminho para outras. Mas eu acho que tem que manter a pressão, porque ao falarmos mais do tema e comemorarmos esses avanços podemos ter a impressão de que os espaços estão mais conquistados do que realmente estão. Por isso, a importância de continuar falando deste assunto e buscando mudanças estruturais e institucionais.” 

Entre as medidas possíveis para amplificar a diversidade de gênero e raça no cinema, bem como expandir as opções de filmes com protagonistas femininas, a jornalista cita caminhos das esferas pública e privada: o incentivo na criação de políticas públicas de cultura e a contratação de mais mulheres para assumir as funções. “As pessoas que ocupam lugares de decisão têm que contratar e investir nesses talentos, oferecer os recursos necessários para que as profissionais tenham liberdade criativa de desenvolver determinados personagens e construir suas histórias.” 

Em breve, o CineSesc vai revelar a programação completa do 49º Festival Sesc Melhores Filmes, e aqui no blog, vamos comentar todas as produções, nacionais e estrangeiras, conduzidas por cineastas mulheres que serão exibidas entre os dias 6 e 26 de abril. 

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