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Conheça novos talentos do cinema que despontaram em 2023

Entre um filme intimista e com toques autobiográficos de Steven Spielberg (“Os Fabelmans”) e um épico grandioso com a assinatura de Martin Scorsese (“Assassinos da Lua das Flores”), as salas de cinema no decorrer de 2023 também apresentaram novos talentos para o público. 

Cito Spielberg e Scorsese porque são dois dos maiores cineastas vivos, pertencentes ao panteão do cinema hollywoodiano. Mas poderia citar outros diretores igualmente consagrados que – felizmente – continuam em atividade e figuram entre os principais lançamentos do ano passado. Exemplos não faltam: Julio Bressane (“Capitu e o Capítulo”), Catherine Breillat (“Culpa e Desejo”), Jafar Panahi (“Sem Ursos”), Aki Kaurismäki (“Folhas de Outono”), Paula Gaitán (“Luz nos Trópicos”) e Jerzy Skolimowski (“EO”, em cartaz para ser visto gratuitamente no Sesc Digital).

É gratificante que simultaneamente a conferir novos trabalhos desses realizadores já consolidados, que são importantes para a formação cinematográfica de tantos cinéfilos, há também a possibilidade de testemunharmos o nascimento de novos artistas do audiovisual. E, dessa forma, sermos introduzidos a diferentes histórias e diferentes formatos de narrar essas histórias.  

Elencamos abaixo alguns cineastas brasileiros e estrangeiros que fizeram o seu debut em 2023 e que, a depender de seus longas-metragens de estreia, prometem carreiras sólidas e promissoras.

Molly Manning Walker, diretora de “How to Have Sex”

Com apenas 30 anos, a britânica Molly Manning Walker já chegou com os dois pés na porta, garantindo uma posição de destaque entre as cineastas mais interessantes da última safra. Mesmo com pouca idade, ela já soma 45 créditos na função de diretora de fotografia em videoclipes e, principalmente, curtas-metragens. Seu longa de estreia na cadeira de diretora, “How to Have Sex”, foi consagrado com o prêmio Un Certain Regard, no Festival de Cannes, e indicado a diversas premiações do cinema independente. Cunhado como um filme feminista, a história acompanha três amigas adolescentes durante um feriado na Europa, onde elas não imaginavam que a expectativa de diversão abriria caminho para um buraco negro de frustrações e abalos psicológicos.  

Cena de “Mato Seco em Chamas”, de Joana Pimenta e Adirley Queirós / Crédito: Divulgação

Joana Pimenta, codiretora de “Mato Seco em Chamas”

A trajetória profissional de Joana Pimenta, portuguesa radicada brasileira, é semelhante à de Walker. Além de autora de curtas-metragens, até então, seu trabalho mais conhecido era como diretora de fotografia de “Era Uma Vez Brasília” (2017), de Adirley Queirós, trabalho que lhe garantiu um prêmio no Festival de Brasília. Cinco anos depois, ela retorna ao mesmo festival para ser coroada na categoria Melhor Direção, compartilhado com Queirós, pelo poderoso “Mato Seco em Chamas”, sua primeira incursão como diretora em longas-metragens. Ambientado na favela de Sol Nascente, na Ceilândia, o filme destila um discurso feroz contra o conservadorismo e promove um híbrido de ficção e documentário para narrar a história de um grupo de mulheres que chefia a distribuição de gasolina na região. 

Sérgio de Carvalho, diretor de “Noites Alienígenas”

“Noites Alienígenas” é o primeiro longa-metragem de ficção assinado por Sérgio de Carvalho. Antes ele havia dirigido o documentário “Empate” (2018), sobre o movimento de seringueiros e ambientalistas do estado do Acre. Não só a localização no Norte do Brasil une esses dois projetos, mas também a exposição à violência que acomete grupos periféricos que vivem descobertos pelas autoridades. Vencedor de cinco Kikitos de Ouro no Festival de Gramado e um dos lançamentos mais originais do cinema brasileiro no ano passado, “Noites Alienígenas” mescla drama com aspectos de fantasia em uma trama sobre criminalidade, preservação da memória e resistência. No elenco, os atores Gabriel Knoxx, Chico Diaz, Adanilo e Gleici Damasceno brilham em seus papéis.  

Cena de “Noites Alienígenas”, de Sérgio de Carvalho / Crédito: Wesley Barros

Georgia Oakley, diretora de “Blue Jean”

A história de “Blue Jean”, longa britânico de baixíssimo orçamento, se passa no final dos anos 1980, época em que o discurso de ódio fomentado pela gestão Thatcher estava numa onda crescente. Uma professora lésbica – vivida magistralmente pela novata Rosy McEwen – leva uma vida dupla até ser confrontada por uma de suas alunas, encarada por ela como uma ameaça de ter a sua sexualidade revelada para todos. Em seu primeiro longa, Georgia Oakley lança um olhar acolhedor para o conflito interno de sua protagonista, em um registro delicado sobre autoaceitação. “Blue Jean” não inventa a roda, mas conquista pela simplicidade, e muito de seu sucesso é creditado à sensibilidade com que a diretora conduz a trama.

Kyle Edward Ball, diretor de “Skinamarink – Canção de Ninar”

“Skinamarink – Canção de Ninar”, do jovem canadense Kyle Edward Ball, é a prova de que as ideias do cinema de horror são inesgotáveis. Neste título, há um aspecto bastante etéreo em sua composição visual, e o fiapo da história – crianças aterrorizadas por um monstro sem rosto – praticamente se evapora diante dos experimentos opacos aplicados pelo seu realizador, o que pode ocasionar certa confusão e angústia a quem assiste. Não se trata de um filme de fácil compreensão, se é que existe essa “preocupação” de ser compreendido. Mas fato é que Ball se revela bem-sucedido na elaboração de um pesadelo atípico que parece acessar as entranhas dos nossos medos e traumas mais primitivos. 

Fellipe Fernandes, diretor de “Rio Doce”

Antes de filmar seu primeiro longa-metragem, “Rio Doce”, um drama familiar por excelência sobre a ausência da paternidade, o diretor e roteirista Fellipe Fernandes foi assistente de direção de Tavinho Teixeira na comédia “Sol Alegria” (2018) e no clássico recente “Bacurau” (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Rio Doce é o nome de um bairro da periferia de Olinda/PE, onde transcorre a história de Tiago (Okado do Canal, em uma interpretação contida e emocionante), um jovem pacato que, na véspera de completar 28 anos, descobre informações cruciais sobre o seu passado. É nesse estado nebuloso que o protagonista se encontra, em um conflito interno de querer descobrir mais sobre a sua origem e a própria identidade. 

Cena do documentário “Quando Falta o Ar”, de Ana e Helena Petta / Crédito: Tarso Sarraf

Ana Petta e Helena Petta, diretoras de “Quando Falta o Ar”

Posicionando o SUS (Sistema Único de Saúde) em primeiro plano, o premiado documentário “Quando Falta o Ar” retrata o empenho das profissionais de saúde em cinco estados (São Paulo, Bahia, Pernambuco, Pará e Amazônia) na linha de frente no combate à Covid-19, em um momento que ainda não havia vacinas disponíveis no Brasil. O filme transporta o público a um cenário obscuro de medo e incertezas, mostrando os efeitos devastadores da pandemia somados às negligências do governo federal. As irmãs Ana e Helena Petta, atriz e médica infectologista, respectivamente, se unem para a realização desse projeto, um dos primeiros nacionais sobre a crise sanitária que assolou o país e o mundo. Intenso e necessário, “Quando Falta o Ar” ganhou o prêmio máximo no Festival É Tudo Verdade. 

Michael B. Jordan, diretor de “Creed III”

O astro Michael B. Jordan é mais conhecido pelo público atuando na frente das câmeras em títulos como “Pantera Negra” (2018) e no drama “Tudo pela Justiça” (2019). Desde que assumiu o protagonismo da franquia “Creed”, interpretando o filho de um dos principais oponentes do boxeador Rocky Balboa – papel imortalizado por Sylvester Stallone -, B. Jordan embarcou de cabeça. Não só assumiu os créditos de ator e produtor dos filmes, como foi diretor de primeira viagem do terceiro capítulo da série, “Creed III”. O resultado superou as expectativas, foi um surpreendente sucesso de bilheteria, agradou público e crítica e evidenciou B. Jordan, antes um ator requisitado, também como um cineasta em ascensão.

A programação completa do 50º Festival Sesc Melhores Filmes, que acontece entre os dias 3 e 24 de abril, será anunciada em breve.

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