Além da exibição até o dia 26 de abril dos filmes mais votados pelo público e pela crítica na sala do CineSesc, a programação do 49º Festival Sesc Melhores Filmes também oferece atividades especiais e gratuitas de interação entre o público e profissionais do cinema, incluindo cursos, bate-papos, lançamento de livro e sessões online na plataforma Sesc Digital. No dia 6 de abril, o festival promoveu mais uma edição do “Conversas com a Crítica”, que reuniu seis jornalistas e críticos de cinema de diferentes regiões do Brasil para compartilhar os seus pontos de vista e apontar as tendências que observaram no universo cinematográfico em 2022.
Mediados pela crítica de cinema Maria do Rosário Caetano, os participantes convidados foram Marcelo Miranda (MG), atual presidente da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine); a crítica, roteirista e curadora Lorenna Montenegro (PA); Viviane Pistache (MG), crítica de cinema e Doutora em Psicologia; Luciana Veras (PE), que atua como repórter especial da Revista Continente, um dos poucos veículos impressos do segmento cultural em circulação no país; e Gustavo Cruz (DF), criador de conteúdo no YouTube e idealizador do curso Além do Frame.
No encontro, vários tópicos relacionados ao cinema foram levantados com o propósito de esquentar a discussão, que contou com a participação da plateia. As reflexões antenadas e provocações pertinentes abrangeram temas distintos, desde o papel da crítica cinematográfica e o fortalecimento das políticas públicas de cultura no Brasil até as ferramentas eficientes para fomentar a apreciação do cinema brasileiro pelo público.
Cada orador trouxe contribuições valiosas para o debate. Miranda comentou sobre o retorno às salas de cinema pós-vacina e a sua percepção de que o cinema nacional foi pouco visto. “Tivemos uma invisibilidade popular do cinema brasileiro em 2022, com exceção de poucos títulos que furaram a bolha, como ‘Marte Um’ e ‘Medida Provisória”. Se os filmes não são vistos, logo não geram renda e se tornam economicamente irrelevantes.” Em contrapeso, o crítico cita a superprodução norte-americana “Top Gun: Maverick” como “o maior fenômeno de bilheteria que moveu as pessoas a saírem de casa e se arriscarem para ir ao cinema”, acrescentou.
E qual a razão do desequilíbrio no desempenho comercial desses filmes? Uma das razões elencadas pelo crítico é o alto investimento de estúdios e distribuidoras em marketing virtual, considerando que as pessoas estão cada vez mais conectadas. “As empresas entenderam que se criassem virais para vender seus produtos culturais, iria dar resultado, e por isso, a internet virou a principal ferramenta de divulgação”, opinou. Miranda exemplifica como case de sucesso a campanha que levou “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, um filme que estreou em abril de 2022, a atravessar todo o ano e ser consagrado no Oscar com 7 estatuetas. Outro exemplo muito mais recente é o ainda inédito “Barbie”, de Greta Gerwig, que viralizou em um dia com vários internautas se apropriando dos pôsteres de lançamento do filme.
Quanto ao cinema nacional, que foi o assunto predominante durante a conversa, a crítica Viviane Pistache falou de sua experiência em acompanhar a evolução dos roteiros de “Marighella” e “Marte Um”, ambos vencedores do Festival Sesc Melhores Filmes em anos consecutivos pelos júris popular e da crítica. Pistache também compartilhou a sua trajetória na assistência de direção da comédia “O Pai de Rita”, de Joel Zito Araújo. A jornalista Luciana Veras posiciona “Marte Um” e “Paloma”, do pernambucano Marcelo Gomes, como dois dos filmes mais importantes lançados em 2022. Sobre o papel do jornalismo cultural, ela defende que as publicações devem “ampliar o olhar, expandir e adensar a discussão sobre uma produção cinematográfica e, a partir dessa análise, iluminar outras discussões.”
Lorenna Montenegro incluiu questionamentos relevantes em sua fala, cruzando o significado da crítica de cinema em simplesmente emitir uma opinião e, do outro lado, trazer uma reflexão mais aprofundada sobre a concepção estética de um determinado produto audiovisual. É possível e como devem ser alinhadas essas duas formas de expressão? Baseado em sua experiência no meio digital, o crítico Gustavo Cruz observou a forma ligeira que o público consome hoje em dia os conteúdos voltados ao cinema. “A maioria tem preferência por vídeos rápidos, de poucos segundos, como os reels do Instagram, que são mais dicas do que assistir, em vez de vídeos mais longos e elaborados, como é o caso da análise de uma obra”, comparou.
Quanto ao cinema em si, Montenegro defendeu o caráter educacional de se formar novos públicos que sejam receptivos a diferentes olhares e linguagens, e ponderou o que o público pode fazer em termos práticos pelo cinema brasileiro e pela manutenção e sobrevivência dos exibidores de produções autorais.
Enquanto os multiplexes dos shopping centers preenchem todas as suas salas com exemplares hollywoodianos, o cinema nacional nem sempre tem um espaço onde possa ser apreciado por um público em larga escala. “Eu moro no Brasil, e eu preciso ir atrás dos filmes brasileiros, porque os filmes norte-americanos me pegam até dormindo”, ironizou Cruz. Ele cita o drama nacional “Carvão”, de Carolina Markowicz, como um excelente título que não teve o alcance que deveria. “E isso é uma pena, porque são filmes como ‘Carvão’, e como ‘Aftersun’, para citar um estrangeiro, que fazem as pessoas se apaixonarem por cinema, que motivam as pessoas a quererem ser cineastas e que motivam rodas de conversa como essa”, finalizou.
A maioria dos filmes citados pelos críticos estão contemplados na programação do 49º Festival Sesc Melhores Filmes. Para conferir os horários das sessões e garantir o seu ingresso antecipado, clique aqui.
